São Paulo, 23 de dezembro de 2024

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09/06/2013

A íntegra do discurso do presidente da Abimei

(09/06/2013) – “É para nós motivo de muita alegria e satisfação recebê-los nesta noite, em que comemoramos 10 anos de existência da Associação Brasileira dos Importadores de Máquinas e Equipamentos Industriais, a Abimei.

Para nós, é uma noite festiva. Só quem viveu e vive as dificuldades enfrentadas por uma organização associativa, com as características e especificidades de um segmento como o nosso, é capaz de avaliar o significado de completar uma década de plena atividade.

Somos importadores de bens de capital e meios de produção. Para certos setores da sociedade, a simples menção desta atividade – importação – é capaz de provocar um distanciamento, uma aversão, um fim de conversa.

Especialmente na chamada grande Imprensa e nos discursos oficiais das grandes e poderosas entidades representativas da indústria nacional, a importação de máquinas e meios de produção é tratada como uma atividade inimiga do Brasil e dos brasileiros e, por isso, deve ser combatida.

Esquecem-se nossos antagonistas que, antes de importadores, somos brasileiros. Somos proprietários ou administradores de empresas brasileiras ou multinacionais presentes no Brasil. Empregamos brasileiros, geramos milhares de postos de trabalho na cadeia produtiva industrial, recolhemos centenas de milhares de Reais em impostos. E, sem qualquer parcialidade ou falsa modéstia, somos a única saída para o Brasil retomar a curva do crescimento sustentado, com inovação e competitividade.

Não somos a única voz a se levantar nesta direção. Os números da economia estão aí para comprovar a importância da atividade importadora. O mais recente dado, divulgado pelo governo no dia 29 de maio passado, aponta para um crescimento de apenas 0,6 por cento no PIB do primeiro trimestre de 2013, ante o mesmo período do ano passado. Para os economistas, que esperavam crescimento entre 0,8 e 1,0 por cento, a “surpresa negativa” veio por conta da oferta, especialmente da indústria, que não conseguiu produzir o que era esperado.

No ranking mundial de competitividade, o Brasil despencou cinco posições em um ano, passando da 46ª para a 51ª posição, segundo o índice elaborado pelo International Institute for Management Development (IMD), uma das maiores escolas de negócios do mundo.

Entre os Brics, apenas a África do Sul está em pior colocação do que o Brasil: perdeu a 50ª posição do ano passado para ficar em 53ª este ano. Enquanto isto, a China passou do 23º para o 21º lugar, e a Rússia saltou do 48º para o 42º. A Índia, apesar de também ter perdido posições, ficou em 40º lugar no ranking.

O que falta para a indústria brasileira produzir em escala suficiente para atender às necessidades do país, exportar – e não somente commodities – e fazer com que o Brasil ocupe um lugar digno da sua importância no cenário econômico mundial?

Competitividade e Inovação – Duas palavras que andam juntas, como irmãs siamesas. É impossível aumentar a competitividade, sem investir em inovação tecnológica. Todos os outros entraves ao crescimento econômico do país, e que compõem o chamado Custo Brasil, com seus desafios na modernização da infraestrutura, logística, mobilidade urbana, os investimentos em educação, a melhor formação da mão de obra técnica especializada, e a indispensável reforma tributária são frentes a ser atacadas pelas autoridades governamentais.

No entanto, nenhum investimento nestes setores irá adiantar se não houver estímulo ao aumento da competitividade, o que só se dá por meio da inovação.

“Estamos gerando serviços e produtos com um trabalho de baixa produtividade”, disse Carlos Arruda, professor da Fundação Dom Cabral e responsável pela pesquisa do IMD no Brasil. Para ele, o fraco desempenho do PIB é consequência direta da baixa competitividade da economia brasileira.

Não há como negar a importância deste alerta.

Há um intencional grito, que beira o sensacionalismo, atribuindo a culpa do mau desempenho da economia às importações. Mas os dados da Organização Mundial de Comércio, divulgados em abril último, mostram que também no Comércio Internacional o Brasil vem perdendo posições, e não somente no que tange às exportações. Ao contrário, também estamos importando menos.

Os dados oficiais revelam que as vendas brasileiras ao mundo sofreram uma contração de 5% no ano passado, com meros 1,3% de participação no comércio mundial. Na outra parte da balança, as importações também caíram 2,1%. Em ambos os casos, o Brasil ficou na 22º posição do ranking mundial. A título de comparação, os países emergentes tiveram aumento de importações, em média, na ordem de 4,6%.

Para Colemann Nee, economista da OMC – Organização Mundial do Comércio, o resultado brasileiro coloca o país bem abaixo dos demais emergentes e do resto do mundo. Questionado se o protecionismo brasileiro contribuiu para esse resultado, ele apenas disse: “Certamente essas medidas não ajudaram a aumentar o comércio internacional”.

O diplomata brasileiro Roberto Azevêdo, recentemente empossado presidente da OMC, é outra voz relevante a ser ouvida. Também para ele, medidas protecionistas, como as que vêm sendo adotadas pelo Governo brasileiro, a título de “salvaguardar” a indústria doméstica, são uma “derrapada”, como ele disse à revista Veja, um movimento negativo “contagioso”, que, se não for estancado, pode ser lesivo a todos.

Ele se refere, aqui, ao perigo de os governos, como Brasil e Argentina, entre outros, deixarem-se seduzir pela facilidade do fechamento de suas economias, em momentos de crise econômica como a que estamos vivendo, em escala mundial, desde 2008. “O livre-comércio é visto como uma ameaça ao emprego e à estrutura produtiva do país”, disse ele.

Na prática, sabemos que medidas protecionistas dão a algumas empresas melhores condições para concorrência interna. Porém, há um viés que é a acomodação, fazendo com que as mesmas fiquem desinteressadas em serem competitivas globalmente.

Resta ao governo brasileiro estimular investimentos em inovação, para que o Brasil volte a ocupar posição de destaque no comércio internacional. Segundo o presidente da Natura, empresário Pedro Passos, em entrevista publicada no começo deste mês pelos principais jornais econômicos, as empresas brasileiras não inovam porque não precisam, porque vivem de exportar matérias-primas ou vendem seus produtos somente para o mercado interno, no qual a competitividade é baixa.

“Quem não disputa mercado internacional tem mercado cativo em casa, o que faz com que a empresa não precise inovar”, disse ele. “No mercado nacional há mais incentivos, o risco é menor, o apetite de inovação é menor e a empresa pode oferecer um produto de qualidade inferior. Esse é o quadro.”, disse ele.

E concluiu: “Se o Brasil quiser ser mais inovador, tem de abrir suas fronteiras e entrar no mercado global de tecnologias. Não tem nada errado em ser um exportador de commodities; porém, isso é insuficiente para completar o desenvolvimento que queremos para o país. Fazer mais do mesmo não vai funcionar.”

Faço minhas as palavras do presidente da Natura, Pedro Passos. O que temos assistido, desde que a crise econômica de 2008 se instalou no mundo, em graus variados, de país a país, é a queda da produtividade na atividade industrial do BRASIL, num processo que tem se revelado desastroso para todos os envolvidos, seja o fabricante nacional, seja o importador, seja a própria sociedade brasileira e o país.

Até agora, com as medidas que foram tomadas e as atitudes preconceituosas de alguns setores relacionados à formação da opinião pública, todos estamos perdendo.

Lembrem-se da afirmativa feita no início de minha fala:

Antes de mais nada: somos brasileiros! Queremos o melhor para o BRASIL!

Será que é isso que queremos para nós brasileiros?

Novamente perder o trem da história e ficar contemplando os avanços dos outros emergentes?

Enquanto isto, na contramão da lógica, com o mesmo argumento de preservação de empregos, em outubro do ano passado, o governo brasileiro aumentou o imposto de importação de 100 itens, entre eles, pelo menos de 15 bens de capital e insumos utilizados pela indústria, subindo a alíquota de 14 para 25%.

Assim, tende-se a achar que o patamar de 14% de imposto de importação de bens de capital necessários a equipar as indústrias nacionais é ótimo, quando, na verdade, já seria um descalabro se comparado com a média mundial de 2%.

O governo já teria incluído outros 100 itens, desta vez, aumentando a alíquota de 14 para até 35%, o teto máximo admitido pela Organização Mundial do Comércio, se não fossemos nós, da Abimei, e colegas de outras entidades representativas de importadores, termos nos manifestado fortemente contrários a esta nova lista, com justificativas amparadas em estudos técnicos.

Quando fomos à Brasília, logo após a divulgação da primeira lista de 100 produtos impactados com o aumento do imposto de importação, ouvimos exatamente este argumento do então secretário executivo da Camex, senhor Emílio Garófalo Filho. A lista foi uma demanda dos países do Mercosul, interessados em proteger as suas indústrias domésticas, e elaborada a partir dos interesses de seus fabricantes nacionais, com a justificativa da preservação dos empregos.

Ora, o que preserva emprego é aumentar o nível de riqueza no país e isso se dá com o aumento da produção interna de bens, pela indústria de transformação e pelo aumento da competitividade.

De nada adianta proteger a indústria nacional sobretaxando as máquinas, equipamentos e insumos industriais.

A prática tem mostrado que isto produz dois efeitos, igualmente negativos: de um lado, aumenta o preço da máquina importada, obrigando o empresário a adiar projetos de investimento ou penalizando aquele que realmente precisa da máquina importada – quer seja por motivos de demanda tecnológica, qualidade, precisão ou produtividade, e às vezes até por uma questão de necessidade de prazos de entrega mais curtos que a indústria nacional não será capaz de prover em épocas de alta demanda – e vai ter de pagar mais caro por ela.

De outro lado, como acabou acontecendo na prática, aumenta os preços internos dos insumos e equipamentos fabricados pela indústria doméstica que necessitou ser “protegida”.

Curiosamente, a absoluta maioria dos fabricantes nacionais de máquinas também é importadora. Importa não somente peças e componentes acabados, para incluir nas suas máquinas, como também máquinas inteiras, para acrescentar ao seu catálogo de produtos.

Essa lógica se explica nas necessidades impostas pela globalização dos mercados, da qual a indústria nacional não tem como fugir – e, por isso, o fabricante nacional também se rendeu ao fato de que não vale a pena fabricar no país, muitas vezes por uma questão de falta de escala de produção, máquinas convencionais e de baixa tecnologia e valor agregado.

Basta caminhar pelos corredores da Feimafe para ver a importância do produto importado para o desenvolvimento da indústria. Dados divulgados pela própria Reed Alcântara, organizadora da feira, revelam que 47% do total dos expositores são importadores ou multinacionais. Para dar uma ideia mais clara da contribuição da Abimei nesse particular, nossos 49 associados que participam do evento ocupam mais de 6 mil metros quadrados do pavilhão de exposições.

Dentre eles estão fabricantes de prestígio mundial e também distribuidores de equipamentos de diversas marcas e origens, todos geradores de emprego no Brasil e com notada preocupação em zelar pelo pós-venda daquilo que comercializam, contribuindo até mesmo com a formação da mão de obra especializada, muitas vezes escassa para o grau de tecnologia oferecido por suas máquinas.

Não fossemos nós importantes para o setor produtivo, não haveria sentido em estarmos aqui. Os importadores sustentam praticamente a metade da principal feira industrial da América Latina porque a indústria brasileira precisa da mercadoria que temos para vender no Brasil.

O foco a ser atacado, assim, nos parece claramente equivocado! O que se deveria ter a preocupação em coibir é a importação indiscriminada de produtos manufaturados e já acabados – como, por exemplo, de autopeças ou produtos diversos em plástico e outros materiais, sejam eles itens de consumo ou peças técnicas.

Deveríamos todos nos preocupar em que a manufatura voltasse a ser feita no Brasil ao invés de no México e China, só para citar dois países de destaque neste momento. Isso sim traria de volta, de forma bastante rápida e significativa, a produção de vários itens industrializados e, consequentemente, um enorme aumento na demanda por equipamentos, tanto nacionais como importados.

Mas, para isso, é preciso investimento.

E repito que cabe ao governo brasileiro estimular investimentos em inovação!

Ao completar 10 anos de existência, a Abimei sente-se preparada e coloca-se à disposição de qualquer agente interessado no crescimento do Brasil para ajudar na elaboração de uma política industrial séria, que vise ao aumento da competitividade e da inovação industrial em nosso país. Para isso, as máquinas e equipamentos industriais importados são inquestionavelmente indispensáveis.

Mais uma vez, obrigado a todos pela presença.”

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