(*) Luiz Aubert Neto
(27/02/2011) – Desde que assumimos as diretorias da Abimaq/ Sindimaq, em 2007, temos elaborado estudos bem fundamentados que alertam para o risco de desindustrialização. Quando começamos a chamar a atenção para o problema, há mais de três anos, alguns analistas econômicos, integrantes do governo e até mesmo algumas lideranças empresariais, consideravam as nossas análises e estudos exagerados ou pessimistas.
Infelizmente, passados três anos, é possível comprovar que o sinal de alerta ecoado pela Abimaq tem fundamento e o que se vê hoje, em todos os canais de mídia, são matérias e mais matérias dando conta do processo de desindustrialização, que já é uma realidade no Brasil. Até mesmo o governo já reconhece que a indústria de transformação corre sério risco de desaparecer.
É verdade que a economia está aquecida e em alguns aspectos, vai muito bem, com seu crescimento sendo puxado pelo forte consumo do mercado interno. Mas é verdade também que esse consumo vem sendo atendido, cada vez mais, por produtos importados, em substituição à produção nacional. Basta olhar as etiquetas de origens dos produtos nos supermercados, magazines, lojas em geral, concessionárias de automóveis etc. Há uma verdadeira invasão de produtos importados, sendo que a maioria deles vem da China. A consequência disso é que estamos transferindo milhares de postos de trabalho para o exterior. Empregos que deveriam ser oferecidos aos brasileiros estão sendo entregues, de bandeja, aos chineses, coreanos, indianos etc. Em médio prazo essa conta não fechará!
No caso específico do setor de máquinas e equipamentos a situação é grave, os números mostram que já há um processo de desindustrialização e desnacionalização em estágio avançado. O faturamento do setor, no ano de 2010, ficou 9,4% acima de 2009, mas 12,1% abaixo de 2008, considerado um bom ano para a indústria. As exportações foram 21,1% superiores a 2009, mas despencaram 27,7% em relação a 2008. Por outro lado, batemos um recorde indesejado, com as importações tendo crescido assustadoramente: 32,9% superior a 2009 e 14% superior a 2008. Infelizmente, não andamos nem de lado, andamos para trás.
O déficit acumulado da balança comercial de máquinas e equipamentos não deixa dúvidas de que a desindustrialização vem a galope. De 2005 a 2010, o déficit acumulado já é de US$ 45 bilhões, repito: US$ 45 bilhões. O consumo aparente (máquinas que são consumidas no Brasil) era composto, em 2005, por 60% de máquinas nacionais e 40% de máquinas importadas.
Em 2010, essa conta se inverteu, sendo que 60% do consumo foi de máquinas importadas, contra apenas 40% de máquinas nacionais. Será que isso não é desindustrialização?
Em um recente trabalho da Abimaq, apresentado pessoalmente aos ministros da Fazenda, do Desenvolvimento Indústria e Comércio e ao presidente do BNDES, foram analisadas as cerca de 1.400 NCM’s do setor de máquinas e equipamentos. Neste estudo, com base em dados oficiais do próprio governo, foram comparados por NCM: preço médio mundial, por produto, das importações que entram no Brasil x preço das importações vindas somente da China x preço de exportação dos produtos brasileiros. E o resultado, como já vínhamos alertando, é que para qualquer NCM do setor de máquinas, o preço do produto chinês custa, em média, 1/3 do valor de exportação do produto brasileiro. Para várias NCM’s analisadas o produto chinês chega a custar dez vezes menos que o produto nacional. Essa perda de competitividade não ocorre por ineficiência das empresas nacionais, pois, historicamente, cerca de 30% da produção de máquinas e equipamentos é destinada ao mercado externo, sendo a grande maioria exportada para países de primeiro mundo.
Logo, podemos concluir que a indústria brasileira é competitiva e que o Brasil é que não é competitivo!
Nunca é demais lembrar que o “Custo Brasil” impõe uma perda de competitividade para indústria nacional da ordem de 43%, isso em relação à Alemanha e EUA. Temos alta carga tributária, elevados encargos sociais, os juros mais altos do mundo e o câmbio, considerado o componente mais pernicioso desta equação. A atual taxa de câmbio, além de escancarar as portas para as importações e inviabilizar as exportações, inibe a intenção de investimento no setor produtivo, pois faz com que os investimentos especulativos sejam muito mais atraentes.
Mas, apesar deste cenário extremamente preocupante, acreditamos que ainda é possível reverter esse quadro. Temos grandes oportunidades pela frente: a exploração da camada pré-sal, o projeto Minha Casa Minha Vida, a Copa do Mundo, as Olimpíadas e tantos outros projetos demandarão investimentos de bilhões de dólares. É preciso, em caráter de urgência, desonerar totalmente os investimentos (isso vale também para o ICMS), desonerar a folha de pagamento, reduzir o “Custo Brasil”, baixar a taxa de juros, baratear o custo dos financiamentos e adotar medidas que inibam a entrada de capital não produtivo no País, para reverter a atual taxa de câmbio.
A atual política econômica que vem sendo praticada no Brasil não condiz com a política de um país que precisa se desenvolver, crescer e gerar emprego para o seu povo. O atual modelo vai totalmente na contramão dos modelos adotados pelos países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Nós da Abimaq estamos fazendo a nossa parte, apresentando aos governos federal e estaduais, propostas claras e bem fundamentadas, para estímulo e defesa da indústria nacional, que podem contribuir para reverter este quadro de desindustrialização e primarização da nossa economia.
Ainda dá tempo, mas os governos precisam entender, urgentemente, que a indústria de transformação está agonizando, correndo sério risco de extinção. Não estamos pleiteando subsídios ou favores, queremos apenas isonomia para concorrer em condições de igualdade com os produtos estrangeiros.
Do contrário, continuaremos a ser o País das oportunidades perdidas.
(*) Luiz Aubert Neto é presidente do Sistema Abimaq