(*) Eduardo Pocetti
(10/10/2010) – Ciência não exata que toma emprestados os números exatos da matemática para se expressar, a Economia deve ser sempre tratada com muito cuidado, já que pequenos deslizes podem causar grandes e desagradáveis consequências. Vejamos que o câmbio é, no momento, o principal destaque econômico em todo o mundo.
Após o choque global de 2008/2009, o valor das moedas tem sido um dos principais trunfos dos países para equalizar suas economias. Podemos destacar o Japão, cujo governo promoveu há pouco a primeira intervenção em seis anos para segurar a valorização do iene frente ao dólar. As autoridades japoneses já sinalizaram que, apesar das demonstrações de desaprovação vindas da Europa e América do Norte, podem voltar a intervir no câmbio para evitar que seu país veja a cotação do iene disparar, prejudicando suas vendas externas.
No Brasil, vivemos um cenário delicado. Além da desvalorização global do dólar, a entrada de recursos externos em nosso país tem provocado sobrevalorização do real em relação ao dólar. Um fator em especial tem mexido com os ânimos do mercado cambial: a perspectiva de que cerca de US$ 20 bilhões entrem no país até o final do mês em razão da oferta pública de ações promovida pela Petrobras. Também as taxas de juros (as mais altas do mundo, com uma Selic a 10,75% ao ano) têm estimulado o ingresso de investimentos externos.
Vivemos um momento de excesso de oferta de dólares no mercado, o que, naturalmente, é um fator que eleva a cotação da moeda local. O Ministério da Fazenda tem indicado que atuará decisivamente no mercado para enxugar a liquidez da divisa norte-americana. No entanto, agentes deste mercado têm sido céticos em relação ao sucesso a ser obtido pelas autoridades nacionais em segurar a flutuação do real.
Isso faz lembrar com certa preocupação um episódio de 1992, quando o investidor George Soros demonstrou o poder de que dispunha às mãos ao especular contra a libra esterlina, quase provocando a quebra do Banco da Inglaterra (o banco central britânico). O poder de ação dos bancos centrais e dos tesouros nacionais é muitas vezes limitado contra a ação de grandes investidores, de poderosos fundos de investimentos ou mesmo de um mercado em marcha de efeito manada.
Percebemos que o governo brasileiro quer evitar que a cotação do dólar fique abaixo do patamar psicológico do R$ 1,70, em uma defesa das exportações brasileiras – e, até, das vendas internas de produtos nacionais diante do estímulo às importações representado pelo recuo da divisa norte-americana – passíveis de serem fortemente afetadas devido à valorização excessiva do real. No entanto, é preciso ter muita cautela ao atuar no mercado, para evitar movimentos que pareçam desequilibrados e provoquem reações indesejadas e enfrentamentos. É curioso perceber que o poder dos cerca de US$ 270 bilhões em reservas internacionais recordes em poder do Tesouro Nacional é pouco representativo no esforço do governo em segurar a cotação do real. A alternativa atual que resta ao BC é engordar ainda mais estas reservas, atuando para retirar dólares do mercado.
Não há dúvidas de que o mercado está muito atento aos movimentos do Banco Central neste momento delicado dos negócios cambiais. É claro também que o câmbio no Brasil é livre, e até por isso é natural o governo atuar para que a variação da moeda nacional venha a convergir para que os resultados da política econômica alinhem-se ao planejamento traçado pelo governo. Cabe às autoridades nacionais dosar adequadamente o uso dos instrumentos de que dispõem (compra de dólares no mercado à vista, uso dos contratos de swap, emissão de títulos, etc.) para atuar de forma equilibrada no mercado de câmbio, provocando o mínimo de perturbações possível.
(*) Eduardo Pocetti é CEO da BDO, quinta maior rede do mundo em auditoria, tributos e advisory services