(05/12/2021) – Pelos mais recentes números da Anfavea, janeiro a outubro, a produção de caminhões no Brasil está 91,2% acima do registrado no mesmo período do ano passado. Já as vendas no mercado interno até outubro somam 106.320 unidades, 50,4% acima dos números de 2020, enquanto as exportações (18.964 unidades) estão 86,4% maiores. São números bastante positivos, em especial se comparados às projeções da entidade feitas no início do ano: alta de 23% na produção, de 13% nas vendas internas e de 16% nas exportações.
Para 2022, a entidade ainda não divulgou suas projeções, mas executivos de empresas como Mercedes-Benz, Volkswagen Caminhões e Ônibus e Volvo Caminhões comentaram as perspectivas do setor para o próximo ano, em live promovida pelo site Automotive Business. No geral, o quadro é de otimismo, apesar das dificuldades que o setor automotivo como um todo vem enfrentando com o abastecimento de insumos, de pneus a aços, passando pelos semicondutores.
Para poder avaliar o próximo exercício, na visão de Roberto Leoncini, vice-presidente de Vendas da Mercedes-Benz, é preciso antes ter-se noção mais clara do que irá acontecer no dia seguinte em termos abastecimento. “A questão dos pneus está melhor, mas ainda não normalizada. Semicondutores, na nossa avaliação é um tema que ainda vai ser estar em pauta até pelo menos a metade de 2022… “. E acrescentou ainda outro ponto: os problemas enfrentados pela cadeia global de fornecimento, com o aumento dos preços dos fretes, dos contêineres e dos fretes aéreos.
Alcides Cavalcanti, diretor executivo da Volvo Caminhões, lembrou os números de 2021 que apontam para um crescimento de 50% nas vendas de caminhões em geral, com destaque para os pesados e os semipesados. “Para 2022, apostamos no crescimento dos semipesados para o setor de construção, como betoneiras, e também para a distribuição de produtos, não o porta-a-porta do e-commerce, mas com capacidade maior. Vamos acompanhar o crescimento desses dois segmentos”, disse, frisando que, no entanto, o setor como um todo continuará sendo puxado pelo agronegócio. “O patamar de participação no mercado de 55% para os veículos pesados também deve ser mantido”.
Para Sérgio Pugliese, diretor de Vendas da Volkswagen Caminhões e Ônibus, 2021 está sendo um ano muito importante para a indústria de caminhões. O e-commerce apresentou um desempenho supreendente, fomentando a demanda de leves e médios, ao mesmo tempo que a construção civil também contribuiu nesse segmento com os veículos vocacionais. “Já o extrapesado é muito fundamentado no que entra e sai do país e o agronegócio tem aí uma participação muito grande, assim como as commodities em geral”.
O executivo da VWCO também enxerga 2022 com otimismo, embora as perspectivas para o crescimento do PIB no próximo ano sejam divergentes. “Para nós, havendo (crescimento) do PIB, o mercado de caminhões se movimenta”. Ressalta, porém, que a empresa não trabalha com a perspectiva de PIB negativo: “o cenário é positivo e seguimos mantendo essa visão para 2022”.
EURO VI – Cavalcanti reconheceu a existência de análises diferentes (de +1% a -0,1%) em relação ao PIB em 2022 e a indústria de caminhões é movida a PIB, mas lembrou outros fatores que devem contribuir para puxar as vendas. “A introdução do Euro VI, em janeiro de 2023, já está gerando previsões de compra em 2022. Não na mesma proporção da ocorrida em 2011, quando da introdução do Euro V, mas vai haver antecipação das compras”, afirma, acrescentando que o agronegócio promete uma movimentação maior, devido às perspectivas de safra recorde no ano que vem. “Não me arrisco a dizer quanto – porque existem efeitos contrários a se considerar -, mas vai haver crescimento no próximo ano”.
Na opinião de Leoncini, o PIB deve crescer 1% no próximo ano. Porém, outros fatores podem prejudicar o desempenho da indústria de caminhões, como inflação e taxa de juros, que está em alta e já têm reflexos nas montadoras, muitas delas voltando a trabalhar com o Finame de deixando o CDC, em função do custo financeiro que está em alta. Outro ponto é como estará no próximo ano o comparativo de preços entre novos e seminovos, este vai ser um fator para a tomada de decisão para renovar ou não a frota.
O representante da VWCO concordou. Segundo Publiese, a taxa de juros para o mercado de caminhões é algo que pode se converter numa ameaça, assim como a inflação e o custo de produção, pois nem todos os setores da indústria têm conseguido repassar estes custos. “É preciso alguma cautela, mas mantendo o sinal positivo e o otimismo”.
Na opinião do VP de Vendas da Mercedes-Benz, a economia cresce no próximo ano, pois vários setores tendem a crescer mais que o PIB e isto irá demandar mais caminhões. Um exemplo, na avaliação de Leoncini, é o setor de mineração, que está com vários novos projetos. “A Mercedes-Benz acredita muito no crescimento dos negócios desse setor e estamos investindo em estrutura de serviços para esse setor que trabalha 24 horas por dia 365 dias por ano”.
Cavalcanti lembrou que outro impulso deve ser dado com a possível introdução do programa de renovação de frota. “Grande parte da frota nacional de caminhões é antiga, Euro 0, e essa parcela grande estaria inserida num contexto de renovação de frota daria contribuição para o meio ambiente, segurança. A gente acredita nesse tema, assim como na inspeção veicular como pontos-chave”, disse, frisando que a Anfavea vem discutindo esse tema com o governo. “Vamos ver como isto vai se desenrolar”.