(*) Carlos Rubim
(10/11/2019) – Desde que o mundo passou por sua primeira Revolução Industrial, trazendo desenvolvimento, inovação e novos conhecimentos, os processos industriais não pararam de evoluir e cada vez mais as máquinas ocuparam seus lugares nas fábricas. Com isso, uma nova demanda surgiu: a manutenção de máquinas e equipamentos, já que para garantir um bom funcionamento e alta produtividade, a prevenção de falhas e correções torna imperativo o advento da manutenção.
Jornada de evolução dos sistemas de manutenção
Pode-se dizer que o homem desde os tempos das cavernas já desenvolve meios de correção para seus utensílios diários, mas foi a partir de 1914, com a Primeira Guerra Mundial, que as técnicas de manutenção se tornaram mais aprimoradas. A cada revolução industrial, com as novas tecnologias de produção surgem também novas abordagens de manutenção. Conceitualmente, pode-se classificar em quatro os tipos de manutenção praticadas pela indústria.
Manutenção Reativa ou Corretiva -Também conhecida como run to failure – ou, traduzindo, funcionando até a falha – é aquela em que nenhuma análise é feita e a manutenção só acontece após a falha do equipamento. Apesar de ser uma abordagem dita primitiva, por vezes é justificada dada baixíssima criticidade do ativo dentro do processo produtivo e relativo baixo custo em sua manutenção;
Manutenção Preventiva – Quando o sistema operacional é interrompido de tempos em tempos para corrigir o que for (ou não) necessário e trocar peças que têm uma validade pré-determinada pelo fabricante, independentemente se a máquina apresenta falhas ou não. É uma abordagem muito utilizada que pode ser demasiadamente dispendiosa, pois pode-se substituir partes e peças na metade de sua vida útil e substitui-las por outras com defeitos e/ou vícios em sua fabricação, por exemplo;
Manutenção Preditiva – É o monitoramento das condições de funcionamento. Rotas de verificações frequentes são traçadas para se saber o real estado momentâneo do equipamento e, a partir dos resultados e tendências destas medições, são tomadas decisões de reparo ou continuidade;
Manutenção Prescritiva – É conhecida como o futuro da manutenção. Nessa abordagem a medição e a análise ocorrem remotamente e em tempo real, não havendo a necessidade de o técnico ir até o local onde está o equipamento apenas para avaliá-lo. Também não é preciso consultar os dados ou o histórico daquela máquina, já que o próprio sistema terá uma inteligência artificial tomadora de decisões, que integrando todas as informações da concepção do equipamento, do seu histórico de funcionamento e falhas, comparando estes com históricos de diversas outras máquinas similares em seu banco de dados, somadas às condições ambientais de temperatura e umidade, por exemplo, decidirá pela manutenção e/ou continuidade da operação. Desta forma, os técnicos poderão dedicar-se aos trabalhos de reparo e substituição de ativos.
Manutenção Prescritiva: o futuro da manutenção – Ao pensar na jornada de evolução dos sistemas de manutenção, a prescritiva está no ponto mais alto. Nela, por meio de tecnologias, como machine learning, é possível acessar todos os dados registrados sobre a máquina, bem como todos os comportamentos de ativos semelhantes. Além disso, a maior vantagem da manutenção prescritiva é a tomada de decisão totalmente automatizada, com rapidez e exatidão. Quando pensamos na quantidade de dados do sistema e na estratégia da manutenção, a prescritiva está muito à frente. Por meio da utilização de multidados, os técnicos têm um número de informações muito maior e a chance de tomar uma decisão mais assertiva e embasada aumenta, ao invés de gastar tempo avaliando o equipamento e fazendo plano de manutenção.
As empresas que adotam uma estratégia da manutenção mais próxima a prescritiva podem transferir o esforço e tempo que seus técnicos geralmente gastam analisando dados para outra atividade que demande uma dedicação tão ou mais importante. Já na abordagem preditiva e com maior eficiência na prescritiva, tudo funciona como uma triagem médica, na qual a doença – ou no caso, a falha – é definida de acordo com sua criticidade, sendo assim definida a necessidade de ser consultada, ou não, por um clínico geral ou por um especialista. Portanto, a otimização do serviço de manutenção é vantajosa para o cliente que não pode permanecer com seu equipamento quebrado, e para o profisisonal, cuja rotina e equipe cada vez mais enxuta, o obriga a ir direto ao ponto principal do problema, já com uma solução definida.
De acordo com a pesquisa da Confederação Nacional da Indústria – CNI, até 2016, 63% das empresas utilizavam novas tecnologias digitais, e apenas 48% pretendiam adotar as inovações tecnológicas. A partir de 2018 houve um aumento significativo do interesse das empresas pela chamada “Indústria 4.0”, – e o número passou de 63% para 73%. Ou seja, hoje, pelo menos 7 em cada 10 grandes indústrias pretendem ou utilizam tecnologias digitais em seu dia a dia – o que mostra avanço e uma maior preocupação dos setores industrial e empresarial. No entanto, é importante pontuar que, até 2018, apenas 21% das empresas utilizavam tecnologias de coleta, processamento e análise de grandes quantidades de dados (big data), e somente 9% adotaram tecnologias de sistemas inteligentes de gestão, como a Inteligência Artificial.
A pouca utilização de tecnologias ligadas ao mesmo sistema que opera a manutenção prescritiva ocorre porque a maioria dessas empresas ainda estão em um estágio inicial da Indústria 4.0, mas, em contrapartida, existe um aumento da procura por tecnologias digitais e esse cenário tende a mudar. A manutenção prescritiva está firmando-se como uma das novas tecnologias digitais mais eficientes e trazendo resultados mais positivos para o setor.
Em 2017, o ARC Advisory Group realizou um estudo sobre a aplicação da manutenção prescritiva em turbinas. O resultado mostrou que essa aplicação reduziu em 50% o tempo de inatividade por manutenção corretiva, além da redução de 35% de acidentes graves, e o tempo de resposta ficou 25% mais rápido do que antes. Esse é apenas um exemplo dos benefícios adquiridos ao adotar esta modalidade de manutenção.
Quando pensamos nesse sistema totalmente integrado, com dados na nuvem, tomada de decisão automatizada, sensores que deixam o fluxo de trabalho mais rápido e os equipamentos de teste e medição funcionando com maior facilidade, é possível vislumbrar o futuro do setor industrial. O processo passa a ser mais inteligente e simples, atingindo assim a melhor funcionalidade das máquinas. Por mais que pareça algo ainda distante, essa tecnologia cada vez mais é uma realidade e está na hora de as empresas atentarem-se a este cenário para não correrem o risco de serem deixadas para trás. A manutenção prescritiva é de fato o futuro da manutenção.
(*) Carlos Rubim é gerente de Produto da Fluke do Brasil, fabricante de ferramentas de teste e medição compactas e profissionais.