(*) Antonio Borges
(06/07/2014) – Em várias ocasiões tenho ouvido ou lido que um dos problemas econômicos do Brasil é a baixa produtividade do trabalhador brasileiro. Os argumentos costumam ser os de que o nível de escolaridade é baixo, existem excesso de feriados, férias de 30 dias… E, em seguida, as inevitáveis comparações com os trabalhadores asiáticos, alemães, norte-americanos, muitas vezes concluindo com estereótipos, como se todos os trabalhadores brasileiros fossem vítimas de uma espécie de preguiça endêmica. Ao que parece poucos questionam se a produtividade depende só do trabalhador.
Na semana passada tive acesso a dados que, no mínimo, apontam para outra direção. Na defesa para a implementação do Modermaq, programa de modernização fabril que está sendo avaliado pelo governo, a Abimaq lembra que o parque industrial brasileiro é composto em média por máquinas e equipamentos com idade de 20 anos. Além disso, os investimentos em capital produtivo no Brasil na última década têm-se mantido em média inferior aos dos países da América Latina (-2% ao ano) e 4% menor em relação à média mundial. Resultado: o parque industrial não só não cresceu o suficiente, como está envelhecido.
Algumas análises sobre o assunto afirmam que o trabalhador norte-americano é quatro ou cinco vezes mais produtivo que o brasileiro. Porém, não informam que as fábricas nos Estados Unidos ou na Alemanha são equipadas com recursos (máquinas, equipamentos, robôs, acessórios etc.) de US$ 300 mil por trabalhador, em média, enquanto nas fábricas brasileiras a média é de US$ 60 mil por funcionário.
Ou seja, me parece uma questão de aritmética. Façam as contas. A afirmação, portanto, deveria ser colocada de outro modo: a produtividade das fábricas brasileiras é 1/5 das fábricas norte-americanas. Isto porque as fábricas brasileiras investem apenas 1/5 do que as norte-americanas investem (ou investiram) em modernização do parque fabril.
Uma pesquisa sobre produtividade do trabalhador brasileiro no Google resulta em inúmeros artigos e reportagens, em geral como avaliação negativa dos trabalhadores brasileiros. Como exemplo, cito matéria de abril passado, publicada pela revista inglesa “The Economist” sob o sugestivo título de “The 50-year snooze” (algo como “50 anos de soneca” ou “50 anos de cochilo”). Ou seja, estaríamos todos dormindo em berço esplêndido nos últimos 50 anos…
O subtítulo da matéria vai na mesma linha: “Os trabalhadores brasileiros são gloriosamente improdutivos. Para que a economia cresça, eles precisam se livrar da letargia”. Como se não bastasse, a matéria é ilustrada por uma foto de um homem deitado numa rede, numa praia, vestido de sunga e um chapéu com a bandeira brasileira.
Em tempos de Copa do Mundo no Brasil, não se trata aqui de uma disputa entre trabalhadores nacionais e qualquer outra “equipe”. Mas de dividir responsabilidades. Outros fatores certamente deveriam entrar nessa conta, como câmbio, carga tributária etc., entrando na partilha das responsabilidades os governos federal, estaduais e municípios.
(*) Antonio Borges é editor do site Usinagem-Brasil
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