São Paulo, 23 de dezembro de 2024

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31/08/2013

Enquanto as montadoras batem recordes, as autopeças…

(*) Antonio Borges

(01/09/2013) – “Enquanto o setor automotivo bate recordes todos os meses, as autopeças quebram recorde de fechamento de empresas”. Descontado certo exagero, que pode ser creditado ao calor da hora (uma coletiva de imprensa) ou a justificada inveja que vários setores têm dos incentivos que a indústria automobilística goza no Brasil, a frase acima – de Luiz Aubert Neto, presidente da Abimaq -, com pequenas variações, está na cabeça de todos os profissionais que atuam na indústria nacional, mas em especial daqueles ligados à indústria metal-mecânica.

A explicação é óbvia – e não é novidade para ninguém – e está no crescente déficit na balança comercial da indústria de autopeças. Vale lembrar que não só as montadoras que importam partes, peças e componentes dos automóveis que aqui fabricam. As próprias autopeças importam de suas matrizes ou de filiais de seus respectivos grupos onde quer que determinado item esteja mais barato do que no Brasil – o que com o atual conjunto dólar, juros e carga tributária não é difícil de encontrar.

“Os fabricantes de máquinas não conseguem vender para as montadoras, e o mesmo ocorre com os fornecedores nacionais de autopeças. Eles (as montadoras) dizem que nossos produtos são muito caros”, afirmou Aubert durante coletiva de imprensa para apresentar o balanço do setor de máquinas e equipamentos, na semana passada. “Mas, é claro, o dólar para eles está em R$ 3,50”, continuou Aubert, referindo-se à proteção dos 35% de Imposto de Importação, que se somam ainda aos 30 pontos percentuais aplicados às importações de montadoras que não possuem fábrica no País.

A indústria automobilística conquistou muitos estímulos e incentivos no Brasil por ser considerada um setor estratégico, pela sua capacidade de geração de empregos diretos (e principalmente indiretos) e pelos benefícios que pode gerar para uma extensa cadeia produtiva, que envolve inúmeros setores. Por isso, é incompreensível que o governo, ao lançar o Inovar-Auto, não tenha simultaneamente estabelecido claramente as regras relativas à indústria de autopeças – que poderiam inclusive descartar a necessidade desta indústria se mobilizar para criar um Inovar-Peças (que mais uma vez teve o seu lançamento adiado).

De acordo com fabricantes de máquinas, equipamentos, ferramentas, entre outros, é na indústria de autopeças que se encontram seus principais consumidores. Ou seja, parte significativa da capacidade das montadoras de estender benefícios para toda a economia nacional passa pelo setor de autopeças. Afinal, não custa lembrar que as montadoras são “montadoras”.

Não está se negando aqui a relevância do Inovar-Auto. Nem a importância da indústria automobilística que é sim fundamental ao País, mas se os estímulos e incentivos não envolverem os tier 1, 2, 3 …, como são chamados os fornecedores do setor, os estímulos e incentivos não terão o mesmo valor estratégico ou o mesmo poder de transformação imaginados pelos autores do programa do governo.

(*) Antonio Borges é editor do site Usinagem-Brasil

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