(*) Murilo Celso de Campos Pinheiro
(11/08/2013) – A demanda por engenheiros qualificados deve aumentar. Porém, engana-se quem pensa em investir na importação de mão de obra. Isso se limitaria a resolver o problema de forma paliativa e não nos deixaria nenhum legado.
Em meio às discussões sobre a vinda de médicos estrangeiros para o Brasil, outra categoria de profissionais também enfrenta o mesmo dilema. A preocupação com falta de engenheiros qualificados no Brasil não é recente. Diante da perspectiva de recuperação da economia, apesar do atual quadro de baixo crescimento, a tendência é que a demanda aumente cada vez mais, principalmente no setor de construção civil. Porém, engana-se quem pensa em investir na importação de mão de obra. Isso se limitaria a resolver o problema de forma paliativa e não nos deixaria nenhum legado. A nossa proposta é bem diferente e diz respeito à mudança de paradigmas, colocando a questão tecnológica como prioridade.
Desde 2006, a Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) vem alertando para a necessidade de se garantir a oferta adequada de mão de obra qualificada, apta a operar um novo sistema de desenvolvimento. Com a retomada do crescimento registrada em 2007, as empresas passaram a acusar a escassez desses profissionais em setores como construção civil, que teve forte reaquecimento nos últimos anos, naval, revivido mais recentemente, e petróleo e gás, no qual as perspectivas são muito otimistas. Mais que um problema, esse cenário constitui-se em oportunidade fundamental de assegurar a colocação e a recolocação no mercado de trabalho dos engenheiros que saem das universidades.
Com a projeção internacional dos últimos anos, nosso país foi incluído entre os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), grupo criado em 2002 em referência aos quatro maiores mercados emergentes do mundo. No entanto, dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação colocam o Brasil abaixo da média das outras nações do grupo, quando o assunto é o número de novos engenheiros formados por ano.
Dos BRICs, o Brasil é o que menos forma engenheiros por ano. São cerca de 42 mil, segundo dados de 2011 do Ministério da Educação. Proporcionalmente, no Brasil temos 4.524 habitantes para cada engenheiro formado no país. Enquanto na Rússia a proporção é de um engenheiro para 747 habitantes e na China um engenheiro para 2 mil pessoas.
Em relação a esses países, os números mostram que estamos muito atrasados ao se comparar a porcentagem de engenheiros formados em relação ao total de alunos que concluem cursos nas universidades.
Longe de ser um problema a se lamentar, a atual demanda por engenheiros é um desafio que a sociedade brasileira deve enfrentar com otimismo e determinação. É preciso recuperar esse prejuízo, lançando mão de todas as possibilidades: tanto requalificar os profissionais disponíveis, mas à margem do mercado, quanto garantir que mais jovens ingressem nos cursos voltados às áreas tecnológicas, assegurando a formação de qualidade.
Pensando nisso, a FNE apoia a criação do Instituto Superior de Inovação Tecnológica (Isitec), uma iniciativa do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (Seesp), que deve receber a primeira turma de graduação, no curso de Engenharia de Inovação, em 2014, após o credenciamento do Ministério da Educação (MEC). A proposta é graduar profissionais com sólida formação básica, educados numa cultura de inovação, aptos a buscar soluções aos desafios do setor produtivo para atuar nos mais diversos segmentos da economia.
É preciso que o setor produtivo, governo, entidades de classe e academia empenhem esforços para garantir que os recursos humanos disponíveis no Brasil sejam aproveitados. O crescimento econômico deve cumprir o papel primordial de trazer melhores condições de vida à população, o que inclui empregar seus trabalhadores. Entre todas as soluções para sanar eventual dificuldade de preencher uma vaga, a pior e que deve ser descartada é a importação de mão de obra.
(*) Murilo Celso de Campos Pinheiro é presidente da FNE