(*) Paulo Rodi
(11/07/2010) – Para concorrer com eficiência no mercado competitivo, é preciso inovar. Não apenas uma vez, mas o tempo todo, em todos os produtos, processos e funções da empresa. Mas a inovação lucrativa não é algo que simplesmente “acontece”. Deve ser gerenciada, avaliada e executada de maneira compatível com as oportunidades e as capacidades da organização. Fundamental é o timing da sua realização.
O grande interesse de diversos setores empresariais em nanotecnologia decorre do enorme potencial de aplicações e impacto no desenvolvimento tecnológico e econômico. Encontramos exemplos de aplicação em setores tão diversos como no agronegócio, saúde e na indústria, em particular do setor automotivo, com novos materiais metálicos e poliméricos de propriedades mecânicas, térmicas e elétricas bastante melhoradas.
Os avanços mais significativos neste campo começaram a ser mais notados na década de 1980 com a invenção de instrumentos como os microscópios de força atômica e de varredura por sonda, que permitem enxergar e manipular materiais no nível do nanômetro, e daí atingir suas melhores propriedades na escala macroscópica.
Em 2001, os EUA lançaram iniciativa para desenvolvimento de nanotecnologia através de plano estratégico que abrange 25 agências e mais de US$ 1 bilhão de orçamento anual. O Brasil lançou esforço conjunto naquele ano através da Iniciativa Brasileira em Nanotecnologia, abrangendo dezenas de instituições de pesquisa e ensino, e que atualmente trabalham em parceria com a rede americana e grupos de excelência na Europa, China, América Latina e Japão.
Diversos setores têm se beneficiado dos avanços e novos produtos da nanotecnologia brasileira. Na biomédica, os nanosensores já permitem detectar doenças e reparar as células defeituosas através da localização precisa e liberação controlada de fármacos dentro do organismo humano. Ligada a essa área têm-se os polímeros biodegradáveis nanoestruturados, cuja cinética de degradação e compatibilidade com o organismo viabiliza a sua utilização como invólucros “inteligentes” para os fármacos ativos específicos ao tratamento de doenças. Na mesma linha está a aplicação de nanopartículas magnéticas biocompatíveis, guiadas por meio de campo magnético até o seu alvo na região afetada pela doença, como no tratamento de câncer.
No setor automotivo têm-se diversos exemplos de aplicação. Desde a década de 1990, com os trabalhos da Toyota, no Japão, os polímeros reforçados com nanoargila apresentam propriedades mecânicas, térmicas e de barreira à permeação de gases bastante melhorada em comparação às soluções de maior custo disponíveis no mercado.
Aplicações como agentes bactericidas adicionam valor aos produtos plásticos empregados em sistemas de ar-condicionado veiculares e traz vantagens percebidas pelos clientes no aspecto de melhoria da qualidade interna do ar circulante. Também os materiais metálicos nanoestruturados contribuem para a constante busca pela redução de peso dos veículos e conseqüentemente redução do consumo de combustíveis e do desgaste mecânico de todo o sistema.
A indústria brasileira demonstra a sua capacidade de aplicar a nanotecnologia em seus produtos. Casos como o das empresas Mueller e Braskem, que desenvolvem produtos no setor de transformação plástica, trazem o valor percebido pelo consumidor através da redução de 33% em peso de componentes originalmente estruturados com alto conteúdo de fibras de vidro, e polímeros com menor sensibilidade a riscos e de melhores características à propagação de chamas.
O mercado automotivo já utiliza muito produtos nanotecnológicos. Há diversos termopolímeros condutivos elétricos aplicados a painéis da carroceria pintados, outros com características superiores ao retardamento de propagação de chamas, como também materiais com propriedades de barreira à permeação de gases para a aplicação em tanques de combustíveis. Plásticos de engenharia de alto desempenho estrutural permitem substituir com vantagens econômicas e de liberdade de design peças ou sistemas concebidos originalmente em metal.
Um recente estudo no setor demonstra que um automóvel utiliza 100 kg de plástico, entre plásticos de engenharia (30%) e poliolefinas (70%). Há também as iniciativas mundiais para o desenvolvimento de veículos elétricos compactos como alternativa eficaz para permitir a mobilidade nos centros urbanos cada vez mais adensados e poluídos.
Mas o Brasil precisa estimular a indústria competente na aplicação da nanotecnologia, para criar produtos adequados a essa nova onda de demanda por materiais e projetos inovadores que contribuirão com os objetivos das grandes montadoras de veículos do País. A SAE Brasil tem procurado contribuir através de simpósios e congressos no papel de estimular o encontro e troca de informações entre as empresas ligadas ao setor automotivo, como o Simpósio SAE Brasil de Novos Materiais e Nanotecnologia, realizado em SP. – *Paulo Rodi é associado da SAE Brasil