Eduardo Pocetti*
(14/12/2008) – Em meio à grave crise financeira internacional que afeta a economia de países de todo o mundo, o Brasil segue dando sinais de que está preparado para encarar as turbulências sem sofrer grandes choques. Um desses indicadores foi o crescimento de 6,8% do PIB nacional registrado no 3º trimestre deste ano em comparação com o do mesmo período de 2007.
O dado aponta que, mesmo após cerca de um ano de restrições ao crédito no mercado internacional devido aos problemas com as hipotecas “subprime” no mercado financeiro dos EUA, o Brasil conseguiu obter um crescimento expressivo, justamente no período em que a atual grave crise estouro. Lembramos que a quebra do banco Lehman Brothers, anunciada em 15 de setembro passado, é o principal marco do momento que vivemos.
Os 6,8% de crescimento foram impulsionados, principalmente, por uma taxa recorde de investimentos na produção (19,7%), alta de 7,3% no consumo das famílias, evolução de 11,7% na construção civil e avanço de 6,7% no setor agropecuário. Essa taxa recorde de investimentos na produção é um indicador de que a inflação devido à escassez de oferta não é uma ameaça imediata.
É evidente que os efeitos da crise internacional estão tendo reflexo mais significativo sobre nós nestes últimos três meses de 2008. Desta forma, é dada como certa a perspectiva de que a economia brasileira venha a apresentar desaceleração entre outubro e dezembro. Há também o receio de que tal tendência se estenda ao longo dos primeiros meses de 2009. No entanto, as ações governamentais internas e mundiais destinadas a destravar o consumo estão sendo expressivas e tendem a surtir efeitos decisivos conforme a confiança do mercado e dos consumidores tome trajetória positiva.
Os números acumulados pela economia nacional nos nove primeiros meses deste ano são contundentes. Mesmo que o PIB fique estagnado no último trimestre, o crescimento em 2008 ficará em 4,8%, segundo o IBGE. Para que a economia cresça no mesmo patamar de 2007 (5,7%), a evolução do PIB no último trimestre de 2008 precisaria ficar em 3,7%, o que equivale a 3,1% abaixo do resultado do terceiro trimestre deste ano. No governo, mesmo reconhecendo os efeitos da crise internacional, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, aposta, por exemplo, que o crescimento do PIB no último trimestre deste ano fique entre 3% e 3,5%, o que representaria uma economia 5,5% maior em 2008, ante os dados do ano anterior.
O grande desafio que se apresenta, e que vem efetivamente sendo encarado pelas autoridades, é fazer com que o crédito e outros recursos (como a prorrogação dos prazos de recolhimento de impostos, ou mesmo da redução de alíquotas ou lançamento de novas alíquotas do IR) cheguem às mãos e estejam disponíveis aos setores produtivos e à população em geral. Apesar de alguns determinados segmentos econômicos, em especial aqueles dedicados às exportações, estarem sofrendo mais em razão da redução internacional do consumo de bens e produtos, o mercado interno brasileiro é grande o suficiente para garantir a evolução da economia. Além disso, hoje, o Brasil é um ator de reconhecida inserção e liderança internacional, contando com parceiros políticos e comerciais que vão muito além dos principais afetados pela atual crise, que são os países desenvolvidos.
Como em qualquer segmento das relações humanas, momentos de crise tornam as pessoas mais alertas, atentas e, na maioria das vezes, temerosas por eventuais sofrimentos e perdas. Por outro lado, as crises ampliam espaços para as oportunidades, para a criatividade e para o espírito empreendedor. Com uma população estimada em 190 milhões de habitantes e diante da inserção de expressivos contingentes de cidadãos no mercado consumidor nos últimos anos, o espaço para as oportunidades está aberto. Cabe a cada um permanecer atento e aproveitar tais oportunidades.
Assim, mesmo diante de um cenário conturbado, com a maioria dos agentes temendo perdas e, portanto, agindo de forma mais conservadora, a ação conjugada dos governos internacionais para debelar a crise é um fato sem precedentes e que deve reverter o quadro no prazo adequado para que o mundo retome a anterior tendência quase que global de crescimento. No Brasil, em especial, a solidez das instituições, as características de seu mercado interno e as bases econômicas apoiadas em indicadores positivos – como é exemplo o resultado do PIB do 3º trimestre – certamente serão fatores que não deixarão espaço para que a crise se aprofunde por aqui. Resolvidos os impactos imediatos dos reflexos externos, o crescimento será certamente retomado com o mesmo vigor registrado nos nove primeiros meses de 2008.
(*) Eduardo Pocetti é CEO da BDO Trevisan