Wilson Sérgio (*)
(2005) – Conta a história: Um dia um ascensorista de um fabricante de cremes dentais infantis sugeriu a uma equipe de líderes que se confeccionasse uma abertura maior para a saída do creme para que este produto em particular fosse vendido em um volume muito maior e com lucros que justificassem a nova versão para a linha de produtos. E aquela idéia foi a salvação de todos eles.
O que também se conta é que o volume de dinheiro gasto com consultores, especialistas, psicólogos, entre outros, havia sido imenso e nada resolvia.
Quando era aprendiz de torneiro mecânico, muitas vezes eu recebia tarefas que não competiam aos profissionais já existentes, eram sempre simples arruelas, pequenas porcas e parafusos para confeccionar num torno mecânico caindo aos pedaços.
Como sempre, existe o mito de que os garotos recém-formados pelo SENAI, não tinham crédito, muitas vezes pela cobrança de ter participado de um bom ensino e demonstrar uma performance não tão agradável.
Por outro lado esse descrédito era proposital, pois muitos profissionais “nasceram” dentro dessas empresas, começaram limpando cavacos ou lavando peças, e não poderiam conviver com a idéia de que um jovem estaria ali demonstrando mais conhecimento e com o direcionamento correto para que logo dominasse na prática todos os equipamentos, que eles levaram longos anos para tanto.
Mas há também o preconceito com a idade, a insegurança em deixar que garotos façam os serviços em “perigosíssimas” máquinas operatrizes.
Muitos não imaginam, mas existem momentos em que ficávamos com uma tremenda vontade de confeccionar peças com uma complexidade maior. E quando nos consultavam sobre alguma peça que faria parte de um novo projeto então? Nossa! Era fantástico. Com isto estávamos na esperança de que finalmente servíamos para alguma coisa além do que “descascar” ferro ou lavar peças.
Era o momento de demonstrar a nossa capacidade e potencial.
Há também a falta de crédito nos operadores de máquinas, muitos acreditam que essa massa só serve para os dias de greve levantarem as mãos para aprovar ou repelir as propostas. Antigamente muitas pessoas não participavam das greves pois o “escritório e a fábrica são locais distintos” e jamais poderia haver uma mistura entre esses dois públicos.
Acontece que as grandes idéias nascem também do chão-de-fábrica, apostar nos operadores, nos aprendizes e nos estagiários (sangue novo) deve ser uma prática lógica. Eles que utilizarão as tecnologias, que demonstrarão a eficácia dos planos, quem realmente colocará em prática o que foi definido em um processo de planejamento.
As pessoas do chão-de-fábrica são as principais peças do jogo em uma empresa. Eles devem ser respeitados, ouvidos e considerados como seres participativos do planejamento e estratégias das empresas.
Consultar um operador sobre a sua opinião quanto a um novo processo a ser implantado ou modificado motiva, engrandece o homem. Demonstra a utilidade de sua presença e de seu trabalho. Caracteriza-o como parte realmente importante e valorizada.
É vital saber que não precisa ir muito longe nem gastar muito dinheiro para encontrar novas idéias, e soluções para os variados problemas de uma indústria.
É só perceber que existe vida inteligente no chão-de-fábrica.
(*) Wilson Sérgio é instrutor de usinagem