Wilson Sérgio (*)
Desde que iniciei a vida profissional no chão-de-fábrica numa grande empresa em São Paulo, tenho acompanhado de perto, e por que não dizer também que já senti na pele, muitas das coisas que ocorrem no ambiente fabril. Seja aquele operário que consegue comer mais que 2 quilos de comida, seja as brincadeiras que ocorrem como maneira de descontrair dentro do ritmo acelerado de produção.
Entre as brincadeiras, posso ressaltar e inclusive recordar a muitos dos que estão lendo, que para um iniciante muita coisa acontece além do que receber a culpa pelos trabalhos que saíram mal feitos ou pelas peças que foram rejeitadas.
Quem não se lembra de ter recebido a nobre tarefa de ir até o mais distante almoxarifado da fábrica e buscar urgentemente, a famosa graxa em pó? Muitas vezes até com requisição assinada pelo chefe! Fora os martelos de desempenar vidro, 1.5 g de pó elétrico para consertar fusíveis diazed, desligar a morsa entre outros.
É incrível, mas enquanto muitos de nós estávamos indo buscar a graxa em pó, passávamos horas rindo dos estagiários do escritório que tinham que lavar carbono.
Durante o passar dos anos e tendo visitado inúmeras empresas e trabalhado nos mais diversos ambientes fabris, tenho percebido algo que é comum a maioria das empresas do país. Ninguém assume diretamente a culpa de nada. Somente em última instância acabam confessando da seguinte forma:
–É mesmo! Agora me lembro, foi quando eu tive que fazer tal tarefa, mas não fiz sozinho, ou talvez esteja seguindo as orientações do manual errado.
Mas isso não é o que geralmente acontece. No início quando as pessoas estão em frente ao chefe ou a outro colega de trabalho, jogam facilmente a culpa nos outros.
–A culpa é do pessoal do terceiro turno, eles sempre aprontam!
–Já deixei milhares de bilhetes e eles não aprendem, deixam a máquina suja para a gente limpar desde a época de Senai.
–Eles não respeitam a gente., também não tem ninguém para controlar, nem o patrimônio fica a cargo deles conferir, a responsabilidade sempre fica para o pessoal do dia, desde a manutenção até abastecer a máquina de óleo, isso sem falar que eles matam bastante peças.
Quando indagados, os trabalhadores do período noturno reclamam:
–Esse pessoal de dia é mesmo folgado, eles ficam com o mundo à disposição deles e fazem tudo errado. E ainda botam a culpa na gente. Nós trabalhamos a noite inteira, com a maior responsabilidade, não temos chefe para nos apoiar, e nada acontece que não conseguimos resolver. Para eles é fácil dizer que estávamos dormindo, aqui nós resolvemos tudo sozinhos e não aparece nenhum problemas durante o expediente!
E é bem assim mesmo. Sempre vai ser assim, mesmo hoje com toda a tecnologia do mundo, com todas as técnicas de controle de produção, manutenção e processos. Com toda a filosofia de trabalho existente, essas picuinhas continuam. E vão continuar sempre pois é disso que vive o ser humano: botar a culpa nos outros.
Quando a culpa não é dos outros, é da máquina e como não dá pra comprar uma nova, a culpa é do material, e quando tem de se trabalhar com esse mesmo material, a culpa é da ferramenta que não agüenta, e quando não tem mais nada a dizer: ele ainda foge pelas entrelinhas.
Segundo os especialistas isso não ocorre mais pois: “depois da ISO 9000, o que importa é buscar os erros durante o processo e não os culpados”.
Será? A Norma não precisa ser implantada? Pois é, as pessoas passam a vida delas em função de 2 coisas essenciais: sentir prazer! E evitar a DOR!
(*) Wilson Sérgio é colaborador do site usinagem-brasil e instrutor de usinagem