A Roland Berger Strategy Consultants, maior consultoria de estratégia da Europa, identificou, a partir de dados quantitativos e do conhecimento do setor, os principais desafios para a indústria automotiva brasileira alcançar a sustentabilidade a médio e a longo prazo.
De acordo com o consultor Corrado Capellano, seduzidos pela estabilidade econômica uniforme e aparente, todos os fornecedores e as grandes montadoras investiram pesado no Brasil durante os anos 90, por meio de inauguração de fábricas ou atualização das já existentes.
“Devido a investimentos de bilhões de dólares, a capacidade de produção do país saltou para mais de 3 milhões de unidades ao ano. Fábricas de última geração, juntamente com testes de novos conceitos de manufatura, produziram veículos em uma velocidade sem precedentes”, explica. O consultor cita as fábricas da VW em Resende (RJ) e Curitiba (PR); da GM em Gravataí (RS) e da Ford em Camaçari (BA). Já a unidade da Fiat, em Betim (MG), segundo o consultor, é um exemplo de como melhorias contínuas podem tornar uma antiga fábrica bastante competitiva.
“Em 1999, com o volume de produção da indústria brasileira reduzido para 35% – depois do pico, ocorrido dois anos antes -, a festa acabou. Desde então, uma recuperação moderada tem ocorrido lenta, mas regularmente. O ano de 2005 marcou um momento importante: um volume recorde de 2,2 milhões de automóveis e veículos comerciais leves”, informa Capellano.
Na opinião do consultor, um aumento das vendas externas e os anos de crescimento estável no mercado interno estão por trás dessa situação favorável. “Montadoras e fornecedores brasileiros, bem-equipados com fábricas modernas, processos de manufatura e tecnologia de ponta, vêm tentando entrar em novos mercados exportadores”, comenta.
No ano passado, de acordo com Capellano, 750 mil veículos comerciais leves e de passageiros foram exportados, em comparação com os 261 mil registrados em 1999. “Veículos e componentes made in Brazil são exportados tanto para mercados emergentes quanto para maduros”, diz.
O consultor acredita que agora o setor deva se posicionar para garantir que o atual nível de produção se desenvolva dentro de uma plataforma sustentável. Para que não se torne, em um futuro próximo, apenas outro pico típico do ciclo de negócios da América do Sul. “Dois problemas principais precisam ser solucionados para assegurar a sustentabilidade da indústria nos próximos anos: ter uma base de custo competitiva e direcionar investimentos para garantir a capacidade e as habilidades exigidas até o fim da década”, revela Capellano.
Na conclusão da consultoria, o Brasil não é mais um país de baixo custo. Os preços dos carros, calculados em reais ou dólares, têm aumentado bastante em todos os segmentos. Providências agressivas são necessárias ao mercado brasileiro para reaver sua competitividade.
“O risco identificado é tão grande que estamos ajudando a criar outra bolha econômica na região. Dentro de cinco anos, pedir proteção das taxas de importação será apenas um exemplo de como muitas decisões importantes não foram tomadas em 2006”, complementa Capellano.
Fonte: Roland Berger