Os países com maior índice de crescimento são aqueles que mais investem no incremento da sua capacidade tecnológica e inovadora. Ao contrário deles – e paralelamente ao tímido crescimento de sua economia -, na última década o Brasil vivenciou crescente redução do peso relativo de seus setores de maior conteúdo tecnológico. Para tentar reverter esse quadro e incentivar a ampliação da capacidade tecnológica do país, o setor industrial brasileiro, em parceria com 17 instituições do meio acadêmico e dos setores público e privado, lançou no último dia 30 de maio, em Brasília, a iniciativa Inova Engenharia, coordenada pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL) e o Senai.
O objetivo é promover uma ação de modernização da educação da engenharia brasileira, atividade considerada essencial para o processo de inovação tecnológica da indústria nacional. “A educação em engenharia representa um elemento chave neste processo, já que se trata de uma atividade condutora da inovação da indústria e demais setores econômicos”, explica o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto.
Segundo o documento que analisa a situação das engenharias no País, divulgado durante o lançamento do Inova Engenharia, o desafio que o Brasil enfrenta é tanto quantitativo quanto qualitativo. Enquanto o país tem cerca de seis engenheiros para cada mil pessoas economicamente ativas, os EUA e o Japão têm cerca de 25. O Brasil forma 20 mil novos engenheiros ao ano. Já a Coréia, forma 80 mil. E isso está ligado intimamente ao crescimento da economia.
O jornal britânico Wall Street Journal mostrou, em novembro de 2005, como a performance do PIB dos países em desenvolvimento da Ásia, particularmente aqueles que investiram em política de inovação, como a Coréia do Sul, foi melhor que os da América Latina nos últimos quinze anos. Qualitativamente, foi diagnosticado que é preciso aumentar a integração da educação em engenharias com o sistema produtivo, dar aos cursos e à pesquisa um foco mais centrado nas necessidades das empresas e do desenvolvimento tecnológico e econômico do País.
Na avaliação de Marcos Formiga, assessor da diretoria do Departamento Nacional do Senai e um dos responsáveis pelo documento, o problema é que o Brasil ainda importa inovação. “Temos poucos engenheiros nas indústrias e fazendo pesquisas. Há a necessidade de que o processo de inovação seja fortalecido com a presença maciça de engenheiros bem formados”, afirma.
Um levantamento preliminar feito com médias e grandes empresas, realizado pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) a pedido do SENAI e do IEL, entidades ligadas à CNI, identificou que os engenheiros formados no país têm boa formação técnica, mas deixam a desejar nas novas habilidades exigidas pelo mercado de trabalho. Faltam a esses profissionais atitude empreendedora, capacidade de gestão, de comunicação e liderança para o trabalho em equipes multidisciplinares, diz o documento, que ouviu também representantes da área acadêmica.
Uma das idéias do Inova Engenharia é modificar a dimensão e a duração dos cursos de Engenharia no Brasil. Hoje, um estudante de engenharia leva cinco anos para se formar. Na Europa, um exemplo bem-sucedido, esse é o tempo que o estudante leva para cursar graduação e também o mestrado. Além disso, também se discute a inclusão nos cursos de atividades que possibilitem a aplicação prática do conhecimento adquirido.
As diretrizes gerais da proposta de modernização das engenharias apontam para a necessidade de se promover maior aproximação entre o mundo acadêmico e as empresas. Isso poderá ser feito, sobretudo, por meio da ampliação dos estágios e da pesquisa colaborativa, de mais docentes atuando como consultores nas empresas e, eventualmente, de profissionais da indústria lecionando em cursos de extensão ou atualização.
AÇÕES – A iniciativa do Inova Engenharia já começa com ações concretas. O IEL, por exemplo, dentro dos mesmos objetivos do Inova, decidiu ampliar seu programa de bolsas para alunos de graduação com o objetivo de desenvolver projetos de base tecnológica aplicados às demandas da indústria. Também vai criar núcleos de gestão da inovação em quinze estados brasileiros. “Essas ações somam-se ao Inova Engenharia e serão desenvolvidas pelo IEL e pelo Senai em parceria com outras instituições, como o Sebrae e o CNPq, no caso das Bolsas Bitec, e a Finep, na implantação dos núcleos de gestão da inovação”, explica o superintendente do IEL, Carlos Roberto Rocha Cavalcante.
Da elaboração do Inova Engenharia participaram, além do IEL e SENAI, representantes das seguintes entidades: Ministério da Educação, Ministério da Ciência e Tecnologia, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Secretaria da Educação Superior (SESU), Secretaria da Educação a Distância (SEED), Agência Espacial Brasileira (AEB), Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (Abipti), Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Associação Brasileira de Educação em Engenharias (Abenge), Academia Brasileira de Ciências (ABC), Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura (Confea).
Fonte: CNI