A indústria automobilística bateu recorde de produção em maio. No resultado acumulado do ano, também apresenta o melhor desempenho histórico. Vendas e exportações tiveram desempenhos excepcionais. O quadro contrasta frontalmente com a crise de duas das maiores montadoras do País, Volkswagen e GM, que anunciaram planos de reestruturação e redução de mão-de-obra. Só a Volks deve cortar quase 6 mil postos de trabalho.
No mês passado, saíram das linhas de montagem 245,2 mil veículos, volume 20,1% maior que o de abril e 10,4% acima do apresentado em igual mês de 2005. No ano, o setor já produziu 1.080.595 veículos, volume jamais atingido antes para esse período, segundo balanço divulgado ontem pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
As exportações, apesar das constantes reclamações contra a política cambial, atingiram US$ 1,058 bilhão, 16,7% acima do obtido em abril e 10,8% maior que em maio do ano passado. Foi o segundo melhor resultado obtido pelo setor, perdendo para maio de 2005, quando chegou a US$ 1,092 bilhão. No ano, as vendas externas contabilizam US$ 4,62 bilhões, outro recorde da indústria.
O presidente da Anfavea, Rogelio Golfarb, pondera que, embora continuem crescendo, as exportações estão em “clara desaceleração” por causa do real valorizado. “Em 2005 as exportações cresciam a um ritmo de quase 40%; este ano, crescemos 8,6% até agora, mas a tendência é de chegarmos ao fim do ano com crescimento na casa de 2,7%.” O produto brasileiro perdeu competitividade, diz.
Segundo Golfarb, o desempenho favorável nos valores obtidos nas exportações é resultado de reajuste de preços para compensar a diferença cambial, e aumento de vendas de produtos de maior valor agregado. Em unidades, as exportações apresentaram melhora de apenas 0,2% ante os cinco meses de 2005 e somam 351.761 veículos inteiros e desmontados.
A indústria espera resposta do ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao pedido de medidas para compensar a perda cambial, como um programa especial de financiamento às exportações pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Golfarb defende uma modernização da legislação cambial que, segundo ele, foi desenhada na época em que faltavam dólares no mercado.
“A maioria das montadoras está atendendo contratos antigos, mas, com o dólar barato, muitos deles não serão renovados”, diz o consultor Richard Du Bois, especializado em setor automotivo. Já o mercado interno, acrescenta ele, está forte, estimulado pelo crescimento econômico e pela queda dos juros. “Muitos consumidores aproveitam para trocar de carro.”
As montadoras venderam 164 mil veículos, segundo melhor resultado para um mês de maio, com aumento de 25% ante abril e de 14,8% ante igual mês de 2005. No ano, as vendas estão 9,4% maiores, com 712,8 mil unidades. Maio teve 22 dias úteis, enquanto abril teve 18.
Para o ano, a Anfavea projeta vendas de 1,8 milhão de veículos, 7,1% acima do ano passado. A Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) é mais otimista e aposta em aumento de 10%, ancorado no financiamento.
Golfarb mantém a projeção de que, até dezembro, a indústria vai produzir 2,45 milhões de carros, 4,5% acima de 2005 e novo recorde. A capacidade instalada das montadoras é de 3,2 milhões de veículos.
Fonte: O Estado de S. Paulo/Cleide Silva