De vendas ocasionais para turistas a fornecedores da Petrobras. Esta foi a trajetória singular de um grupo de artesãos do Vale do Açu (RN), que adaptou seu conhecimento às necessidades da grande empresa. No lugar do alumínio, mantas tecidas com fibras da carnaúba e impermeabilizadas com cera da própria palmeira protegem o isolamento térmico dos dutos condutores de vapor. A troca de material significou economia de 30% para a Petrobras e provocou enorme impacto na comunidade.
A utilização do artesanato em uma empresa de tecnologia de ponta reflete bem como são variadas as possibilidades de negócio oferecidas pela cadeia de petróleo e gás. A inserção das micro e pequenas empresas de forma eficiente neste segmento é o grande objetivo do convênio Petrobras/Sebrae, celebrado em outubro de 2004. A parceria faz parte do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), criado pelo governo federal para aumentar a participação de fornecedores brasileiros de bens e serviços.
Uma das finalidades mais importantes deste convênio é o desenvolvimento de novas tecnologias. Projetos que viabilizam aumento do conteúdo local poderão reduzir gastos em todas as etapas da cadeia produtiva. Só para se ter uma idéia deste potencial, a instalação no Brasil de oficinas de manutenção de turbinas a gás pode significar economia para o País de cerca de US$ 40 milhões.
Para estimular as empresas brasileiras a investir em pesquisa e fabricação de componentes nacionais, identificar oportunidades de negócios e, principalmente, capacitar estes fornecedores, o convênio está viabilizando projetos nos 12 estados brasileiros onde a Petrobras está presente. Cabe às entidades envolvidas nestes projetos mapear a realidade local e criar seus próprios mecanismos para atingir os objetivos do convênio.
TECNOLOGIA – Na ponta da tecnologia também existem exemplos. A carioca Gavea Sensors nasceu de uma solicitação da Petrobras ao laboratório da PUC-RJ, para a adaptação de sensores de fibra ótica. Entre 2001 e 2003, a Petrobras bancou a pesquisa para se chegar a aplicação prática e hoje o sensor de pressão e temperatura para fundo de poço de petróleo otimiza a produção e dispensa menos intervenções com manutenção e paralisação da unidade de exploração. Antes, o produto só era oferecido por uma empresa americana e por um preço bem superior.
“Vencemos um enorme desafio tecnológico e com a oportunidade de vender para a Petrobras identificamos outros setores onde o nosso produto pode ser aplicado, como infra-estrutura civil, elétrico e aeroespacial”, diz o engenheiro Eduardo Costa.
Para o Sebrae e o governo, o que está em jogo é um investimento de US$ 100 bilhões no setor de petróleo e gás previstos para esta década, mais do que o dobro dos recursos investidos nos últimos 50 anos. O grande desafio é fazer com que as empresas nacionais se beneficiem deste cenário.
O trabalho de profissionalização e inserção das micro e pequenas empresas já apresenta resultados consistentes e animadores em vários estados brasileiros. Em 2005, foram realizadas seis rodadas de negócios envolvendo 423 micro e pequenas com expectativa de negócios da ordem R$ 93 milhões.
CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL – O projeto “Cidades da Solda”, uma iniciativa ambiciosa e pioneira de formação de mão-de-obra maciça, começou a ser implantado em Minas Gerais em dezembro passado. A proposta é capacitar jovens carentes para exercer as profissões de soldadores e maçariqueiros. A falta de técnicos qualificados nesta área é tão grande que a refinaria Gabriel Passos, por exemplo, é obrigada a buscar profissionais de outros lugares para atender a sua demanda.
Minas Gerais também deve receber expressivo volume de investimento nos próximos anos em outros setores, como energia, mineração, siderurgia e papel e celulose. Estima-se que exista grande demanda por mão-de-obra capacitada na área de soldagem, calculada em 57 mil profissionais.
O treinamento será oferecido para jovens acima de 18 anos, desempregados e em situação de risco social. No curso eles terão formação teórica e a prática será desenvolvida nos laboratórios montados na escola. Um dos pilares principais deste projeto é não só formar o aluno para desempenhar uma função específica, mas também que ele adquira conhecimento suficiente para solucionar problemas no dia-a-dia da profissão. Dentro do conceito de responsabilidade social, também estão sendo implantadas outras ações para a comunidade como assistência médica, odontológica, sala de informática e biblioteca.
Fonte: Regina Mamede/Sebrae