(*) Luis Sigot
(10/09/2017) – Em meio a aparente estagnação e inércia do mercado brasileiro, especialmente verificado no segmento de máquinas-ferramenta, muitos se queixam do impacto sofrido por todos na crise que o Brasil atravessa. Todos tentam identificar se já chegamos ao fundo do poço, ponto a partir do qual tudo passaria a ser positivo, em contexto de retomada. Mas essa noção não se mostra clara nem objetiva.
Em conversas com os colegas veteranos do segmento, a visão geral parece ser inequívoca: houve outras crises difíceis e traumáticas no Brasil, mas nenhuma se estendeu por tanto tempo, gerando resultados e impactos tão negativos e significativos.
Entretanto, se observarmos com maior cuidado a situação, é possível notar que a retomada já começou. O mais importante, possivelmente a peça-chave para o entendimento da situação e dos novos desafios, é conseguirmos avaliar os impactos que todos sofremos com a crise, e nos anteciparmos na busca pelos novos caminhos, que mais cedo ou mais tarde se comprovarão efetivos na retomada dos negócios.
Apesar dos grandes investimentos desde o começo dos anos 2000, é fato que o segmento óleo e gás caiu muito. É fato que muito da sua potência de anos atrás possa ter sido inflada artificialmente, por questões políticas. E as inúmeras empresas brasileiras que se adaptaram, investiram e se prepararam para atender este mercado, estão passando por dificuldades.
Mas o que dizer da retomada do segmento automotivo? O que dizer da retomada do segmento de linha amarela?
Muito além da fé e confiança no futuro, é importante conseguirmos ler os sinais que a realidade nos apresenta. A saída de todas as crises passou sempre pela busca e encontro de novos caminhos, de novas saídas para retomarmos o nosso crescimento e a nossa estabilidade. É possível que o crescimento possa ser lastreado no segmento de energia, ainda que nesse momento, isso não esteja se apresentando como absolutamente efetivo.
Mas é real e concreto percebermos que existem segmentos ativos envolvendo a indústria brasileira. Linha amarela, sucroalcooleiro, automotivo, máquinas agrícolas são áreas nas quais existem oportunidades reais e efetivas.
Os anos de recessão fizeram com que muitas empresas deixassem de existir, ou que entrassem em situação especial para operar, para não fecharem suas portas. Com isso, os fluxos de fornecimento foram alterados, gerando reais oportunidades para novos participantes.
Agora, os empresários brasileiros mostram-se interessados em ingressar nestes novos segmentos de negócios. Muita vontade, reais necessidades e um passivo enorme para ser buscado, após os últimos anos de baixa.
Ocorre que, a última coisa em que pensam fazer é investir, pois estão com um parque fabril bastante ocioso. Como todos sabemos, a idade média das máquinas-ferramenta no Brasil é extremamente elevada.
Agora segue a chave para o entendimento da nova realidade pós-crise: a realidade na rua nos mostra que existem sim oportunidades para sairmos da crise. Mas essa realidade passa por um novo padrão de produtividade. Não falamos em produtividade como um conceito genérico e abstrato, mas sim como um fato preciso e objetivo.
Por exemplo, no segmento de linha amarela, existem componentes (chassis de escavadoras, por exemplo) que possuem seus preços de usinagem já categorizados e tabelados. O serviço é praticamente uma commodity, definida e limitada no mercado. Para muitas empresas que possuem equipamentos convencionais, o preço de mercado versus o escopo de trabalho para a realização do serviço mostra uma situação absolutamente inviável. Para empresas que possuem máquinas CNC, mas de performance média, sem dedicação, o preço ofertado pelo serviço versus a performance atingida demonstra um negócio de baixo valor, dando a impressão de estarem sendo explorados, que o negócio somente é bom para as empresas que contratam o serviço. Mas existem ainda os que fazem a opção por prepararem-se para atender a este segmento, com equipamentos de alta performance, combinando um bom desenvolvimento de ferramentas, com dispositivos inteligentes, e uma formação adequada para os operadores.
Os que tratam de se enquadrar nessa última classificação, são os que veem as oportunidades como grandes e reais chances de sair da crise, trabalhando em altos níveis de produtividade, o que lhes permite receber muitas centenas de Reais por hora/máquina.
A exemplo do que é visto no segmento de usinagem para o setor eólico, é possível obter excelente remuneração de hora-máquina, também no segmento de linha amarela.
A mesma peça que é usinada em 15 horas em determinado equipamento convencional, pode ser usinada em 7 horas em equipamento CNC. Mais importante: é possível atingir um patamar superior de produtividade, que permita usinar a mesma peça em 2 horas e 40 minutos.
Nestes parâmetros de produtividade, encontramos uma nova realidade de rentabilidade, que nos permite trabalhar com novas perspectivas e cenários, possibilitando a nossa saída da crise. Conforme indicado, o valor de mercado para a usinagem é o mesmo. Enquanto muitos seguem se queixando, outros avançam rapidamente, recompondo-se após uma crise tão traumática e complicada.
Essa nova situação nos coloca um novo paradigma:
Vamos aguardar que o Brasil saia da crise, que o crescimento geral da economia chegue até as nossas empresas, que diminuam os nossos níveis de ociosidade, para voltarmos a crescer nos queixando das margens oferecidas pelo mercado, nos queixando da situação geral, visando modernizarmos o nosso parque industrial quando estivermos trabalhando em três turnos?
Ou vamos investir agora, em equipamentos e processos de efetiva alta produtividade, que nos permitam trabalhar com margens realmente interessantes, permitindo nossa recuperação de caixa, enxugando nosso parque fabril, reduzindo custos, produzindo muito mais, envolvendo muito menos recursos?
Para os que orientam suas empresas pela modernidade e pela produtividade, a crise já acabou!
(*) Luis Sigot é gerente Comercial da Mausa S.A. Equipamentos Industriais