(05/03/2017) – Qual a relação entre superímãs de terras-raras e a chamada 4ª Revolução Industrial? E como o Brasil pode se aproveitar dessa oportunidade para se transformar num grande fornecedor mundial de superímãs? Estes foram alguns dos aspectos abordados pelo presidente do IPT, Fernando Landgraf, durante a sua participação no evento Campus Party, no mês passado, quando apresentou a palestra “Superímãs de terras-raras e a Quarta Revolução Industrial”.
“Muita gente está discutindo se estamos entrando em uma nova era de transformações, a Quarta Revolução Industrial, ou se estamos apenas nos surpreendendo com a aceleração da continuidade da terceira, aquela marcada pelo advento dos circuitos integrados, da automação, dos computadores pessoais, da internet e da telefonia celular. A chamada Internet das Coisas vai mudar tudo à nossa volta?”, observou Landgraf em sua apresentação.
Para Landgraf, são muitas as perguntas, mas uma das coisas que deverão acontecer será o crescimento do uso dos atuadores (elementos que, sob um determinado comando – mecânico ou elétrico – produzem movimento).
“Afinal, nossa vida exige muitas ações, não apenas informações. Ações físicas exigirão a transformação de informação em movimento, e nesse ambiente o eletromagnetismo ainda dominará por muitos anos. Um dos materiais mais importantes para o movimento é o ímã, e aí reside uma oportunidade interessante para o Brasil. Temos condições de desafiar o domínio chinês dos ímãs mais poderosos do planeta, os superímãs de terras-raras.”
Segundo Landgraf, de um lado o País dispõe de grandes reservas minerais desses elementos químicos e, de outro, grandes usuários dos ímãs em geradores eólicos, equipamentos eletroeletrônicos e de informática. “Se a cadeia produtiva – da mineração ao ímã – se estabelecer no Brasil, estará aberta a porta para uma miríade de startups que poderão criar atuadores para tudo o que a Internet das Coisas poderá exigir”, afirmou
“O Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações está investindo em várias frentes para ajudar a viabilizar a cadeia produtiva. Claro que é o mercado que vai dizer se essa cadeia é viável, mas a oportunidade está aí. Muitos novos negócios surgirão e os mais capazes – contando com uma parcela de sorte – ganharão dinheiro com isso.”
PROJETO IPT X CBMM – Desde 2014, o IPT participa de projeto conjunto com a CBMM – Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, com apoio da Embrapii – Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial, para o desenvolvimento de superímãs de terras raras. Entre os resultados dessa parceria, no ano passado foram produzidos no Brasil os primeiros 100 gramas de didímio metálico, constituído de praseodímio e neodímio, elementos das terras raras usados na fabricação de superímãs.
Segundo João Batista Ferreira Neto, coordenador do projeto e responsável pelo Laboratório de Processos Metalúrgicos do IPT, “a obtenção do didímio mostra que é possível, num futuro breve, a sua produção em escala industrial, contribuição definitiva para completar a cadeia dos ímãs de alto desempenho, peças-chave nas turbinas eólicas e carros elétricos, mas também necessários em dispositivos eletrônicos”. A viabilidade técnica, de acordo com o pesquisador, já é dominada, e a comercial vai depender do ganho de escala e de acordos comerciais.
A CBMM, parceira do IPT no projeto, é uma das líderes mundiais na produção de nióbio, metal extraído de sua reserva mineral em Araxá (MG), que possui também alto teor de terras raras. A CBMM mantém uma planta-piloto de concentração (separação) das terras raras, na qual está conseguindo separar os óxidos dos principais metais de terras raras contidos em seu minério, dentre eles o óxido de didímio. O elo que faltava para dar andamento à produção dos superímãs era justamente a redução do óxido de didímio em metal, gerando o didímio metálico, escopo do convênio da CBMM com o IPT. O didímio foi obtido a partir de um trabalho de desenvolvimento de reatores e de processos de redução, que estão sendo investigados no projeto.