(*) ABDI
(05/03/2017) – O anúncio da queda da taxa de juros para 12,25% a.a pelo Banco Central, no final de fevereiro, representa uma boa notícia para o setor produtivo brasileiro, sobretudo com uma expectativa de continuidade de queda até o final do ano, chegando, pelas previsões do mercado, em torno de 9% a.a. Mas o que realmente significa essa redução da taxa de juros?
Em um primeiro momento, uma redução da taxa de juros pode incentivar o aumento do consumo e influenciar a confiança do empresário e o nível de investimento no setor produtivo. Porém, para que isso seja de fato concretizado, é necessário sinalizar que essa redução da taxa de juros básica da economia continuará nos próximos meses, como o Banco Central tem divulgado em suas atas. Mas cabe destacar que, o aumento do investimento não depende apenas da redução da taxa de juros, mas de outras variáveis macroeconômicas relevantes, como o câmbio, que nos últimos meses apresentou valorização frente ao dólar e pode desviar parte do provável aumento do consumo para as importações.
Da mesma forma, é importante destacar que a redução da taxa de juros não resolve o problema de competitividade e de retomada do crescimento sustentável. Ela sinaliza um potencial de crescimento do investimento, mas deve ser acompanhada de uma visão estratégica por parte do setor produtivo e do setor público.
O que devemos buscar é um aumento dos investimentos que represente efetivamente um salto de qualidade na economia brasileira. Isso ocorrerá se tivermos, por um lado, uma melhoria da infraestrutura nacional e, por outro, a ‘reestruturação’ do setor produtivo para enfrentar os desafios de competitividade que virão, como o surgimento de novos tipos de indústrias e a realização de políticas agressivas pelos principais países parceiros. É necessário, portanto, que o aumento dos investimentos no Brasil foque no surgimento de uma “nova” indústria, que incorpore de forma mais ativa inovações e capaz de agregar valor. Isso é fundamental, uma vez que, ao redor do mundo, a emergência da indústria 4.0 e da manufatura avançada faz com que indústrias tradicionais, que utilizavam velhos métodos, tornem-se defasadas e percam competitividade e mercado.
O que precisamos fazer para enfrentar estes desafios é escolher um caminho para o país e essa escolha passa por uma indústria forte intimamente vinculada a um setor de serviços moderno. Em outras palavras, temos que “reindustrializar” o Brasil em novos moldes, construir canais para a integração sinérgica entre produção de bens e forte agregação/incorporação de valor aos produtos por meio de serviços industriais sofisticados – engenharia, design e software. O setor produtivo brasileiro precisa alcançar a “revolução” industrial em andamento.
É importante estabelecer estratégias, indo além da redução da taxa de juros. Isso permitirá ao setor produtivo ocupar nichos, ganhando, então, oportunidades para ampliar sua capacidade produtiva, gerar renda e emprego de qualidade, e, ao mesmo tempo, competir com os produtos trocados no comércio internacional. De outro modo, precisamos nos estabelecer naqueles negócios em que somos bons, naqueles que podemos melhorar ou naqueles que temos potencial, sermos agressivos para ocuparmos espaço no mercado global e, assim, abocanharmos uma parte das vendas que estão à procura de fornecedores no mundo. Isso oportunizará às nossas empresas novos mercados, horizonte de planejamento e estímulo para ampliar investimentos em capacidade e em P&D. São essas variáveis que darão ao Brasil competitividade para produzir, vender e gerar emprego e renda dentro do país.
(*) A ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial surgiu no momento de retomada das políticas públicas de incentivo à indústria, em 2004, como órgão articulador dos diversos atores envolvidos na execução da política industrial brasileira. Em mais de uma década de atuação, sob a supervisão do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, a ABDI é a única agência de inteligência do governo federal para o setor produtivo e oferece à indústria completa estrutura para a construção de agendas de ações setoriais e para os avanços no ambiente institucional, regulatório e de inovação no Brasil, por meio da produção de estudos conjunturais, estratégicos e tecnológicos.