(*) Carlos Pastoriza
(11/10/2015) – Desde o início de 2015, a sociedade brasileira vem sendo brindada com o ajuste fiscal, na prática um pacote de aumento de impostos: elevação de IOF nos financiamentos, aumento dos juros para financiamento da casa própria, volta da CIDE nos combustíveis, reoneração da folha de pagamento, redução de aporte de recursos e a elevação de juros e diminuição da parcela financiada no PSI-Finame e, mais recentemente, a proposta de reimplementação da CPMF e a tentativa de retenção de 30% da arrecadação do “Sistema S”, este que é um recurso pago pelo empresariado brasileiro e que cumpre um papel tão fundamental na formação da mão de obra e educação, preenchendo uma lacuna do deficiente sistema educacional brasileiro.
Não somos contra o ajuste fiscal e temos a responsabilidade de entender que ele é necessário para recolocar o país nos trilhos. Contudo, questionamos veementemente a forma como este ajuste vem sendo realizado. Nas medidas anunciadas mais recentemente, que propõem um corte de R$ 26 bilhões nos gastos, pode-se aferir que 70% deste corte não representa, efetivamente, redução de despesas por parte do governo, mas sim, a apropriação de recursos de outros setores da sociedade como, por exemplo, os do “Sistema S”.
É certo que somente o aumento de impostos não será remédio suficiente para recolocar a economia brasileira nos trilhos. Acrescente-se a isso a taxa de juros nas alturas. A Selic a 14,25% ao ano produz efeitos nefastos à economia, uma vez que inibe os investimentos, pois se torna mais atrativo investir no mercado financeiro. Isso sem falar no aumento de gastos com juros por parte do governo, o que vai totalmente na contramão do tão perseguido ajuste fiscal (cada ponto percentual de aumento da Selic representa um gasto anual da ordem de R$ 15 a R$ 20 bilhões para os cofres públicos. No ano o governo gasta cerca de R$ 400 bilhões só com o pagamento de juros).
Diante de um cenário tão adverso e de tantas notícias ruins, o governo precisa sinalizar, com a mesma velocidade com que anunciou o aumento de impostos, a implementação de um pacote de incentivos ao setor produtivo, capaz de promover a retomada de confiança e ânimo da sociedade. Do contrário, somente a elevação de impostos, somada à crise política, vão levar toda a economia brasileira para uma crise sem precedentes, muito mais séria do que a que já estamos vivenciando atualmente.
Esperamos que, com brevidade, venham a ser anunciadas medidas para a diminuição do Custo Brasil, simplificação do sistema tributário, redução dos spreads e juros escorchantes que são cobrados das empresas e a melhoria da infraestrutura brasileira, com o destravamento das concessões públicas.
Sabemos o quão fortemente o ano de 2015 está comprometido e que passaremos por um período de significativa retração econômica. Entretanto, nós, da Abimaq, vamos continuar motivados e envidando todos os esforços, dando a nossa contribuição, apresentando propostas e cobrando do governo as ações que possam recolocar o país rumo à retomada do crescimento.
Sabemos que as questões estruturais não se resolvem de imediato, contudo, o governo precisa dar sinalizações claras, com urgência, de que irá começar a implementar, ainda em 2015, para que 2016, com a “casa arrumada”, venha a ser um ano de retomada do crescimento da economia brasileira.
Ainda dá tempo, que venham as boas notícias!
(*) Carlos Pastoriza é presidente do Conselho de Administração da Abimaq /Sindimaq